A Estrada tortuosa da política
Por João Evangelista em 01/07/14
Os esforços para construir uma qualidade de vida melhor para a população é muito mais do que um ideal a ser alcançado ou mera ilusão que se distancia a cada movimento. Seria como uma linha intermediária e quase invisível entre ambas, onde toda energia investida para qualquer mudança tem o seu contraponto nos acontecimentos passados que insistem em continuar existindo. Todo o trabalho empreendido em uma mudança atitudinal e cultural em prol de um movimento democrático e solidário, encontra a sua falência nas mentes saturadas de conceitos implantados por aqueles que querem permanecer no poder, a ponto da população defender e adorar as ideias que condenam suas vidas a miséria, exploração e ignorância.
A educação teve um papel importante nessa situação. Em vez de ser libertadora, ela teve seu papel como perpetuação do poder, justificando a concorrência desleal, a disputa desumana e a condição de inferioridade daqueles que nasceram como perdedores na sociedade. Tenta incutir uma ideia de natureza da situação, obra do destino, e que a única forma de escapar desse destino cruel é por meio do esforço individual, onde todo sofrimento é válido e qualquer coisa que se faça para derrubar os oponentes é digno de aplauso, pois desde a sua gestação já era objeto de disputa e uma concorrência para ter o direito de viver e ser cidadão.
A cidadania é negada desde a situação econômica que define os graus e direitos de felicidade e realização pessoal. Coletivamente, historicamente existe uma idealização do destino do indivíduo, uma formulação racionalizada na qual a população aceita como verdade definitiva e se comporta passivamente, como se tivesse uma resposta pronta para os fracassos e para a situação de submissão. Para sentir-se vencedora de alguma coisa, tem que torcer para alguém que tenha poderes vença, torcer para quem ganha, quem está numa posição de privilégio e por esse motivo tem o direito de vencer diante uma disputa de vencedores. Uma compulsiva e alucinada turba veste a camisa e chora desesperada pela benção da mão daquele que a explora. Torcidas organizadas, gastando seus últimos recursos para enfeitar ruas e casas, lindas bandeiras coloridas sobre o esgoto a céu aberto e calçadas coloridas nas ruas esburacadas, imundas e sem infraestrutura mínima de saúde pública. Mas se o time ganha, todo mundo ganha e os prêmios de milhões que são distribuídos entre os jogadores e os clubes jamais serão investidos para o bem coletivo. Aliás, o papel deles é animar diante a desgraça, tal como a política do pão e circo.
Para Hegel, as ideias políticas são uma abstração da vida de uma sociedade, Estado, cultura ou movimento político. Sendo como um produto do imaginário coletivo construído pela própria história de um povo, a política se comporta de acordo com o comportamento popular que a justifica. Aceita-se o fato de incapacidade de autogestão do povo pelo povo, comprovando-se supostamente que aqueles que conseguiram destruir oponentes, mesmo de forma desonesta e contra toda a população, tem o direito de decidir o futuro e a vida de milhares. A miséria e a fome tornam-se naturais, como se o destino que está nas mãos dos governantes decidissem quem deve sobreviver e quem não deve. Essa decisão está aliada aos interesses de uma elite que precisa acumular e diminuir as concorrências, pois são ávidas de poder e podem se mascarar de diversas formas para iludir e enganar aqueles que vivem na pior miséria, que é a ignorância. A ignorância é um tipo de miséria quer atinge qualquer classe social, que a torna incapaz de pensamento crítico, que fica cega diante as injustiças, que se importa somente com as compras feitas no shopping e o carro novo que está na moda. A ignorância é uma doença que está em seu grau epidêmico tornando as pessoas em objetos consumistas, sem autonomia, presos a propagandas e a status sociais, onde a sua própria imagem é um objeto de consumo, com corpos artificiais e pensamentos industrializados.
Diante de tal tragédia, que esperaremos do futuro? Há alguma saída para a justiça social? A resposta é que é claro que sim. Pela mesma ordem natural da existência da exploração, existe o movimento natural da libertação. Do âmago dos explorados e reprimidos, existem aqueles que têm força na voz e nos pensamentos. Não importando o grau de pobreza, não são vítimas da miséria da ignorância e tem a capacidade de analisar criticamente a realidade em que vivem. São capazes de identificar as injustiças e não se calar, mesmo sendo reprimidos e maltratados pelos próprios parentes, amigos, companheiros de trabalho que não conseguem sair da prisão da alienação. Como seres fluídicos que conseguem sobreviver diante as ameaças e torturas, disseminar o saber, o conhecimento, a visão crítica da realidade, como pequenos raios de luz que invadem a escuridão. Mas essa luta é constante, a famosa dialética, os opostos que se complementam.
O futuro, somente Deus e quem sabe, as cartomantes poderiam dizer. Mas até para Deus existe o livre arbítrio, no qual a decisão sobre o futuro dos homens está sob a responsabilidade dos próprios homens. Então, dependendo da história que se constrói pelo cotidiano, o futuro vai se delineando, indefinidamente, mas dinamicamente.
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